Ela chegou vinda do ontem, lá das terras baixas. Veio, talvez
toda inteira, dizendo estar em missão.
Ele não compreendeu de todo, mas a recebeu todo entendido. Na
primeira saída, quando pensou que a levava, errou os caminhos todos. Saiu
parando, à espera de estranhos, que pudessem indicar uma rota qualquer. Pela
direita de quem vinha, puxou a direção à esquerda, sabedor de que na espiral
das geografias, não se perderia, voltaria ao mesmo ponto, o ponto zero.
Ela disse ter poderes.
Ele acreditou.
Ela sacou de sua bolsa unguentos dos mais variados. Secos,
suaves, com cor de pele bronzeada, ardidos, apressados. Desse seu matulão, não
se viam pássaros mortos ou coelhos de cachola. De lá, espiando de cá, percebia
pequenos fogos de purpurina.
Ele não sabia que magia era aquela. Era desses que só levava
o que lhe cabia nos bolsos das calças, quando as calças resolviam vestir seu
corpo, então todo rasgado e arroxeado.
Ela passou o cravo no arranhão das mãos, a pomada lhe foi
aplicada nas quedas das pernas, o perfume, do qual não sabia distinguir uma
nota qualquer, foi-lhe massageado nos seus cabelos-barba.
Ele pensou que a missão estava finda. Que o círculo de suas
feridas havia sido cuidado. Ledo. Daí, seu engano. Quiçá seu espanto, pois
d´ela, que lhe dizia ser bruxa, um oleado foi aplicado.
Ela aplicou soprando em sua boca.
Ele sentiu o azeitamento. Sentiu que aquele tratamento não deixaria
pegajosa sua pele, pois fora aplicada no dentro.
Ela assim sorriu. Disse ter chegado a hora e se foi. Missões
outras?! Que seja, toda bem-vinda. Sempre à esquerda, ele pensou, como um anel,
desenhado na pele e na madeira, sinalizando um eterno espiral.
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