sábado, 21 de janeiro de 2017

Meta


Era o que ouvia quando pequeno, sabido demais essiminino. E desse ouvido, cresci me fazendo pessoa menino. Era fazedor de barragens, o melhor dos pesqueiros de piaba, sabia fazer fogo dos fósforos apanhados, roubava o grude com os cacos de telha, carregava mais do que os crescidos os frutos das vazantes e me deleitava, cabeção d'água, na torrente que fabricaria mil voltagens, barreira abaixo, quando os açudes sangravam.

Essiminino virou uma primeira pele.
Uma segunda pele. Pele terceira.
Quarta e quinta, sexta feira,
dia de colheita, sábado já na feira
quando no domingo não lhe sobrava
carne nenhuma.
Era apenas pele, a pele dessiminino.

Tudo o que essiminino queria era fazer trinta. Trinta anos contados, não necessariamente comemorados, apenas a conta dos trinta. Nos trinta, pensava ele, ou eu, que agora narro, seria doutor de algum saber, fazedor de coisas sérias, teria meu violão, fita cassete, uma língua estrangeira, poucos amigos contados, um bocado vivenciado, gibis colecionados e um grande amor a ser narrado.

Afora a rima desejada, quando nos trinta chegado, essiminino, todo assoberbado, não soube o que fazer com o tempo aguardado, como se o ritmo do cordelado, ouvido paraibano treinado, ainda que no prosado, sem a rima cortejada, e o sacolão do passado guardado, fosse ele desacorrentado, dos sonhos que outrora tivera, quando as conversas de pingas eram sinceras, ele comigo, eu com ele, numa conversa de umbigo, e o riso, todo frouxo abundante, de esperanças e dentes brancos, pudessem tomar um malte gelado, sem frescura e proseado, sem que os trinta fosse trinta mais trinta, numa aritmética desenfreada, mesmo quando o ritmo do fraseado, não fosse ponto a ser marcado, coisa alguma, alguma coisa, num sentido bem arretado, só pra não se render ao arrebatado, numa linguagem que nem era nossa, fosse drama, prosa ou poesia, mas que o conto, esse contado, dissesse alguma coisa no cruzado, que valesse a pena o fraseado, se algum sentido desejasse ser apressado, porque da pressa dessiminino, do tempo escorrido todo, solta a meta desembestou.

Essiminino era meta, metafoto, metacoisa, metahistória, metaminino, metaconto, metaponto. Como se mete, meta esse menino.