Conta
a lenda que um dia chegaria aquela que leria os sinais todos, da água, da terra, do fogo e do ar, e que dessa leitura aprenderiam a ser leve, bem leve, leve na
vida, leve como o pulo do gato, leve como o cheiro do bafo de chuva, leve como
uma corrida desenfreada, leve, apenas leve.
Aqueles
que naquela comunidade moravam, ou por lá ocupavam as suas tardes ou suas noites,
experimentando o fardo dos dias mais árduos ou o frenesi dos mergulhos
simultâneos, não entendiam como naquele espaço tão circunscrito e tão estéril,
brotava, entre entulhos e bagulhos, as flores mais raras. Cada flor era um
acontecimento em si mesmo e parecia ser o presságio da vinda dela.
Raros
eram os eventos em que se reuniam todos. Raro, como um trevo de quatro folhas, raro,
como um tempo não tão contínuo. Desses encontros, pouco se encontra nos
registros históricos, mas isso nunca seria um problema, ou, tampouco, afetaria
as memórias, pois a singularidade de tanta raridade era multiplicada em
milhares de outros momentos.
Momentos
como naquele dia, em que desavisados, pegaram as estradas erradas e
experimentaram o suco em bolhas que explodia garganta adentro e deixava o riso
solto de tão doce.
Ou
como no outro, quando depois de falarem horas a fio, ninguém entendia mais nada,
como se a fala de jazz, que soava como rock, que amava como uma bossa tão nova,
fosse a antiga música ancestral, dos batuques, das dissonâncias e dos
encontros.
Um
dia, inclusive, uma delas disse, num dia que não era de fala, disse cochichando
no ouvido de outro, que há muito, no dia em que ela soube da profecia, tinha
ouvido outra história qualquer, que nem sabia porque aquilo dizia, mas que
queria dizer baixinho, como se fosse contar o maior dos segredos, e como se
aquilo fosse uma tarefa hercúlea, para ela que contava e para o outro que se
engravidava do segredo ao pé do ouvido.
Quando
aquela que decifrará a água, a terra, o fogo e o ar
Nos
quatro elementos, decodificar
Talvez
ela diga para os quatro dos quatros dos quatros de todos nós
Que
a ligeireza da vida pede ritmos diferentes
Que
aquele que explode e sai na frente em frente
Vem
um largado, cavalgando atrás
Levando
o destino adiante
Pois
o fogo precisa do ar
Que
leva a bandeira para o próximo, como numa
Maratona
de milhares de metros
E
que daí, bem dali, a terra segura os empurrões de todas as vidas
Porque
a vida é sobretudo água,
Fluida,
fecunda, mutável e transformadora
Ela
fecunda a terra
Aplaina
o fogo, condensando todo o nosso ar
Aquele
que ouviu entendeu pouco, entendeu muito. Sentiu que ali estava a leitura do
mundo. E já não era necessário esperar. Estava ali. E ali ficou, escutando a
vontade de verdade de todos os astros.
P.S. Baseado numa história real.
P.S. Baseado numa história real.
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