Já são semanas de espera e a chuva não chega. O dia passa
arrastado, mexo em tudo e não concluo nada. Revolvo a terra, me atualizo das
coisas do governo, olho, todo dia, para o horizonte, mas me ocupo do balanço,
esperando o sol cair. E a noite, que antes, bem vinda por causa do entorpecimento,
me deixa atormentado. Por que não chove pai? Sei que não errei nas minhas
contas. Participei das coisas do mundo, fiz cadastro onde devia, me associei
onde orientaram, fiz tudo o que tinha que fazer nesse meu tempo. Mas eu me
enganei pai, esse tempo não é o meu. E o seu também não me pertence. Nem ao
menos, me reconheço mais, ainda não. Fico pensando que quando a chuva chegar, o
mundo então será lavado. E sairemos limpos dessa. Claro que eu nunca serei
julgado, aqui não. Eles não vão encontra-la. Não vão nem mesmo procurar. Eles sabem
que a sujeira, de perto, respinga. E todos eles respeitam meu nome, minhas
botas e minha aliança e já não temos água. Eu e meus companheiros, nesse barco
sem água. Só não esperava que depois de tudo, eu me tornasse o outro. Mas eu
sei que sou, mesmo com todo o meu estranhamento, sou aquele que antigamente se
falava, entre uma cusparada e outra. Mas tudo que fiz, entre o céu e a terra,
pode ter certeza, foi por amor. Talvez eu não tenha sabido amar. Mas pai, você tampouco
me ensinou. Queria apenas que você se orgulhasse do seu filho. Que visse como
eu me tornei grande. As terras, ao nosso derredor, já são todas minhas. Os
nossos se foram e não tem mais ninguém que seja do seu tempo. Os vizinhos, a
léguas de distância, já não sabem de quem sou filho. Eles também não sabem de
mim. E tudo o que eu queria era ser gigante para que assim você pudesse me ver.
Agora não adianta mais, estou tomado por escaras. Apenas me escute:
- Pai, manda chuva. Manda
a chuva, eu, eu... manda chuva.